quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A China atual

A falsa interpretação do Nirvana disturbou as elevadas possibilidades criadoras do espírito chinês, cristalizou-lhe as concepções e paralisou-lhe a marcha para as grandes conquistas. É certo que essas conquistas não consistem nas metralhadoras e nas bombardas da civilização do Ocidente, cheia de comodidades multifárias, mas aqui me refiro à incompreensão geral acerca da lição sublime do Cristo e dos seus enviados. A China, como os outros povos do mundo, tem de esmar neste século os valores obtidos na sua caminhada longa e penosa. Destas palavras, não há inferir que a invasão japonesa, na sua incrível agressividade, esteja tocada de uma sanção divina. O Japão poderá realizar, na grande república, todas as conquistas materiais; usando a psicologia dos conquistadores, poderá melhorar as condições sanitárias do povo, rasgar estradas e multiplicar escolas; mas não amortecerá a energia perseverante do espírito chinês, valoroso e resignado, que poderá até ceder-lhe as próprias rédeas do governo, enchendo-o de fortuna, de suntuosidade e de honrarias, sem desprestígio do seu próprio valor, porquanto a China milenária sabe que os espíritos de rapina embriagam-se facilmente com o vinho de sangue do triunfo, e tão logo o luxo lhes amoleça as fibras da desesperação, todas as vitórias voltam, automaticamente, à reflexão, ao raciocínio, à cultura e à inteligência. O que se faz necessário examinar é o estado de estagnação da alma chinesa nestes últimos séculos, para concluirmos pela sua necessidade imperiosa de comungar no banquete de fraternidade dos outros povos.

Nota do Blog: O texto acima refere-se à primeira metade do século XX.

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